Hipoglicemia: Causas e Manifestações Clínicas

A hipoglicemia é uma condição médica aguda caracterizada pela concentração da glicose sanguínea abaixo dos limites encontrados no jejum (<50 mg/dL em adultos e <40 mg/dL em recém-nascidos); no entanto é difícil definir limites específicos. Pode ocorrer redução em uma hora e meia a duas horas após uma refeição, sendo relativamente comum a obtenção de teores de glicose plasmática ao redor de 50 mg/dL no teste pós-prandial de duas horas. Mesmo em jejum, valores de glicose extremamente baixos, podem ocasionalmente ser encontrados sem sintomas ou evidências de alguma doença. As principais causas de hipoglicemia nos grupos etários são descritas abaixo.
 

Neonatais

  • Pequeno para a idade gestacional/prematuros.
  • Síndrome do sofrimento respiratório.
  • Diabetes mellitus materna.
  • Toxemia da gravidez.
  • Outras causas (ex.: estresse pelo frio, policitemia).

Crianças

  • Hipoglicemia cetônica.
  • Defeitos enzimáticos congênitos (doenças do armazenamento do glicogênio, deficiência de enzimas gliconeogênicas, galactosemia, intolerância hereditária à frutose).
  • Hipersensitividade à leucina.
  • Hiperinsulinismo endógeno (nesidioblastose).
  • Síndrome de Reye.
  • Idiopática.

Adultos

  • A hipoglicemia em jejum é rara, mas sinaliza uma séria patologia subjacente.
  • Medicações/toxinas: doses excessivas de insulina ou agentes hipoglicemiantes orais. Salicilatos e bloqueadores B-adrenérgicos.
  • Excesso de etanol: pelo aumento da concentração de NADH citosólico reduzindo a gliconeogênese.
  • Doenças hepáticas: cirrose portal severa, necrose hepática aguda e tumores hepáticos.
  • Doenças endócrinas: insuficiência adrenocortical (doença de Addison), hipotireoidismo, hipopituitarismo (primário ou secundário), deficiência do hormônio de crescimento.
  • Tumores pancreáticos produtores de insulina: insulinomas – geralmente um pequeno e solitário adenoma benigno das ilhotas pancreáticas, que secretam quantidades inapropriadas de insulina.
  • Tumores não-pancreáticos (fibromas, sarcomas, hepatomas, carcinomas adrenais neoplasmas gastrointestinais, tumores carcinóides e mesoteliomas).
  • Septicemia. É descrita em choques sépticos devido a infecções por gram-negativos.
  • Insuficiência renal crônica. Pacientes urêmicos são propensos a desenvolver hipoglicemia por vários fatores: redução da inativação renal da insulina, diminuição da gliconeogênese renal, perda de proteínas resultando no baixo suprimento de alanina (precursor da gliconeogênese) e defeito na reabsorção da glicose.
  • Hipoglicemia reativa – causada pela liberação exagerada de insulina após uma refeição; idiopática.
  • Após refeições em pacientes submetidos à cirurgias gástricas.
  • Desnutrição severa.
  • Erros inatos do metabolismo (ex.: glicogenose do tipo I).

Manifestações clínicas da hipoglicemia

Não existem sintomas específicos para a hipoglicemia. Uma redução rápida da glicose plasmática a teores hipoglicêmicos geralmente desencadeia uma resposta simpática com liberação de adrenalina, que produz os sintomas clássicos da hipoglicemia: fraqueza, suor, calafrios, náusea, pulso rápido, fome, tonturas e desconforto epigástrico. Estes sinais não são específicos da hipoglicemia pois também são encontradas em outras condições, tais como: hipertireoidismo, feocromocitoma e ansiedade.
O cérebro é totalmente dependente da glicose sanguínea e níveis muito baixos da glicose plasmática (menos de 20 a 30 mg/dL) provocam disfunções severas do sistema nervoso central (SNC). Durante jejum prolongado ou hipoglicemia, os corpos cetônicos são utilizados como fonte de energia. Nestes casos, vários sintomas e sinais são encontrados, tais como: enxaqueca, confusão, letargia e perda de consciência. Estes sinais e sintomas são conhecidos como neuroglicopenia. A restauração da concentração da glicose plasmática, geralmente provoca uma pronta recuperação apesar de uma provável lesão irreversível. O teste oral de tolerância à glicose (TOTG) não é um teste apropriado para avaliar pacientes suspeitos de hipoglicemia.


Bioquímica Clínica: princípios e interpretações
 

Biomédico com habilitação em Biologia Molecular e especialista em Microbiologia Clínica e Laboratorial. 
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